Francisco Neto | Artigo 456f2w
Dentre as festividades de final de ano, o Natal é uma das mais esperadas, talvez pela magia que os presentes trazem consigo. O espírito de generosidade e o desejo de presentear dominam o cenário, e é exatamente nessa época que o comércio se prepara intensamente para a temporada de vendas. Os adultos, em especial os pais, se empenham em escolher os melhores presentes, enquanto as crianças, espertas e já ansiosas, esperam com viva expectativa pelo que vão ganhar. Nesse contexto, este artigo estabelece como foco a relação entre o brincar e os brinquedos, lançando uma provocação interessante: quais são as três coisas que você deve considerar ao escolher um brinquedo para seu filho, principalmente se for caro?
O primeiro ponto a considerar na escolha de um brinquedo para seu filho é compreender a importância da brincadeira na vida infantil. Sigmund Freud, o pai da Psicanálise, comparou o brincar da criança ao trabalho para o adulto e ao processo criativo para o artista. Em todas essas atividades, há um sério empenho e gasto considerável de energia. Muitas vezes, os adultos, por terem esquecido as nuances de sua própria infância, podem ver a brincadeira como um desperdício de tempo. No entanto, para a criança, brincar é uma atividade essencial, que ela leva muito a sério, e que é de grande importância no seu desenvolvimento.
Antes de comprar um brinquedo para seu filho, é crucial entender que a relação da criança com o brinquedo fabricado é muitas vezes bastante precária. Esses objetos são frutos da imaginação de outra pessoa – um adulto – que impõe suas próprias ideias de diversão. Inicialmente, o encanto é inegável, mas trata-se de um fascínio ageiro. Para que o interesse da criança se mantenha vivo, o brinquedo deve oferecer oportunidades para que ela crie, dê asas à sua própria imaginação e expanda seu universo. De modo geral, os pais não precisam comprar brinquedos para seus filhos, pois o que as crianças realmente necessitam são de chances de criar e construir seus próprios brinquedos. Conforme afirmou o psicanalista francês Jacques Lacan, qualquer objeto pode se transformar em um brinquedo nas mãos de uma criança. Quem nunca viu uma vassoura virar um cavalo ou um lençol transformar-se em uma cabana? Assim, os brinquedos comercializáveis atendem mais às necessidades dos adultos de manterem as crianças ocupadas e satisfeitas, do que a uma necessidade real das crianças.
Por último, antes de comprar um brinquedo para seu filho, especialmente se for caro, os pais devem estar cientes de que, em algum momento, a criança irá quebrá-lo. Freud dizia que as crianças, em suas brincadeiras, imitam as ações dos seus cuidadores. Durante os cuidados recebidos, os pequenos são colocados em uma posição iva – são objetos dos cuidados de alguém, como ser alimento, por exemplo. No brincar, porém, assumem uma posição ativa - elas comandam e se tornam autoras no universo lúdico. Isso pode frustrar os adultos, que esperam que a criança cuide dos brinquedos e os preserve. No entanto, para a criança, brincar é explorar e dar asas à curiosidade, como pequenos pesquisadores. Elas querem saber como o brinquedo funciona, interessando-se não apenas pelo resultado – o brinquedo pronto, o carrinho, por exemplo, mas, talvez, muito mais pelo processo e pelo funcionamento dos brinquedos.
Assim, antes de comprar um brinquedo para uma criança, é importante que o adulto tenha bem em mente a importância do brincar para o desenvolvimento infantil e como a criança se relaciona com o brinquedo. Um bom brinquedo deve ser um estímulo à brincadeira, oferecendo oportunidades para que a criança possa criar, imaginar e expandir seu próprio universo. Ao priorizar brinquedos que fomentem a criatividade e a autonomia, os pais estarão contribuindo de maneira significativa para o crescimento saudável e integral dos pequenos.
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Sobre o autor: Francisco Neto Pereira Pinto é professor, escritor e psicanalista. Doutor em Ensino de Língua e Literatura e graduado em Letras - Português / Inglês, leciona no programa de pós-graduação em Linguística e Literatura da Universidade Federal do Norte do Tocantins e nos cursos de Medicina e Direito do Centro Universitário Presidente Antônio Carlos. Membro da Academia de Letras de Araguaína - Acalanto, publicou os livros: “Sobre a vida e outras coisas”, “O gato Dom”, “Você vai ganhar um irmãozinho”, “Saudades do meu gato Dom” e À beira do Araguaia.
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