Na última segunda-feira, 23 de setembro, o Banco Central do Brasil (BC) divulgou uma análise aprofundada sobre o crescente mercado de jogos de azar e apostas online no país. O estudo revelou que, em agosto de 2024, cerca de 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família direcionaram R$ 3 bilhões para casas de apostas virtuais. Esse valor representa 21% dos R$ 14,1 bilhões desembolsados pelo governo federal em benefícios do programa no mesmo mês, o que indica que a cada R$ 5 pagos, R$ 1 foi destinado a apostas. 5b3m1n
O relatório do BC destaca que aproximadamente 24 milhões de pessoas físicas participam de jogos de azar e apostas no Brasil. Essa estimativa considera aqueles que realizaram pelo menos uma transferência via Pix para plataformas de apostas durante agosto. O total apostado pelos brasileiros nesse mês atingiu R$ 20,8 bilhões, sendo que 15% desse montante permaneceu com as plataformas de apostas, enquanto o restante foi distribuído entre os apostadores como prêmios. O estudo abrangeu 56 plataformas de apostas.
A maioria dos apostadores brasileiros está na faixa etária de 20 a 30 anos. O valor médio das transferências aumenta com a idade: os mais jovens apostam cerca de R$ 100 mensais, enquanto os mais velhos podem destinar mais de R$ 3.000 por mês para essas plataformas.
Dos R$ 3 bilhões que os beneficiários do Bolsa Família enviaram às apostas, 67% foram direcionados por chefes de família que recebem diretamente os benefícios. Essa situação levanta preocupações sobre a vulnerabilidade financeira das famílias de baixa renda, que podem ser mais atraídas pelo apelo comercial de enriquecimento rápido por meio das apostas.
O senador Omar Aziz (PSD-AM), que solicitou a análise técnica do BC, apontou que os dados podem subestimar os valores reais enviados para as plataformas de apostas, pois consideram apenas as transações feitas via Pix, excluindo pagamentos realizados por cartões de crédito e débito. Isso indica que o volume total de apostas pode ser ainda maior do que o revelado pelo estudo.
O Banco Central reconhece que as apostas online estão se tornando mais populares do que investimentos tradicionais. Segundo o último Raio-X da Anbima, 14% da população brasileira (aproximadamente 22 milhões de pessoas) fez ao menos uma aposta online em 2023, enquanto apenas 2% investiram na Bolsa de Valores. A única forma de investimento que supera as apostas é a poupança, com 25% da população optando por esse tipo de aplicação.
Diante do crescimento exponencial do mercado de apostas, o governo federal está considerando a regulamentação das plataformas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou a necessidade de normas mais rigorosas para a publicidade das casas de apostas e sugeriu o bloqueio do uso de cartões de crédito nas plataformas. Ele caracterizou a dependência de jogos eletrônicos no Brasil como uma "pandemia" que deve ser abordada urgentemente.
O estudo do Banco Central sobre o mercado de apostas online revela uma situação preocupante, especialmente em relação à vulnerabilidade financeira das famílias de baixa renda que utilizam parte de seus benefícios do Bolsa Família para apostar. A popularidade das apostas em comparação com investimentos tradicionais ressalta a necessidade de uma regulamentação eficaz para proteger os consumidores e promover a estabilidade financeira no Brasil. À medida que o governo busca medidas para enfrentar essa realidade, a conscientização sobre os riscos associados às apostas se torna cada vez mais crucial.