A vacina contra o herpes zoster tem demonstrado potencial para reduzir o risco de demência, conforme revela um novo estudo publicado na revista Nature. Pacientes que receberam a vacina apresentaram uma redução de 20% no risco de desenvolver demência em comparação com aqueles que não foram imunizados. 5a3p35
A pesquisa indica que essa redução no risco pode durar até sete anos após a vacinação. Este achado é significativo, pois oferece uma nova perspectiva sobre como infecções virais podem impactar a saúde cerebral ao longo do tempo.
Especialistas consultados pelo New York Times e pela AP News destacam que os resultados fornecem a prova mais robusta até agora de que infecções virais podem comprometer funções cerebrais anos após o contágio. O herpes zoster, causado pelo mesmo vírus da catapora, permanece dormente nas células nervosas de quem contraiu a doença na infância.
Quando o paciente envelhece ou tem o sistema imunológico enfraquecido, o vírus pode ser reativado, causando uma erupção cutânea dolorosa com bolhas que duram semanas. Embora muitos se recuperem sem complicações, alguns desenvolvem dor crônica ou, em casos graves, perdem a visão se a infecção atingir os olhos.
Há anos, pesquisadores suspeitam que patógenos como o vírus da catapora possam estar ligados à demência, devido à inflamação no cérebro ou aos impactos no sistema imunológico. Estudos anteriores já haviam identificado uma possível relação entre a vacina contra o herpes zoster e a redução do risco de demência, mas não conseguiram eliminar a influência de outros fatores.
O novo estudo analisou dados da campanha de vacinação contra o herpes zoster realizada em 2013 no País de Gales. Na época, as autoridades de saúde estabeleceram um limite de idade rigoroso, com base na data de nascimento, criando um cenário ideal para o experimento. Muitos dos vacinados eram apenas uma semana mais jovens do que aqueles que não puderam receber a dose.
"O que torna este estudo tão robusto é que ele funciona, essencialmente, como um ensaio clínico randomizado com grupo de controle", disse Pascal Geldsetzer, pesquisador da Universidade de Stanford e autor principal do estudo, citado por El Diario. O estudo conseguiu comparar pessoas vacinadas e não vacinadas de forma equilibrada, aproximando-se de um experimento científico planejado, como os testes usados para aprovar medicamentos.
Os pesquisadores analisaram os registros médicos de mais de 280 mil pessoas, com idades entre 71 e 88 anos, e acompanharam sua saúde ao longo dos anos. Aproximadamente metade delas recebeu a vacina. Com essas informações, os pesquisadores compararam os dois grupos e eliminaram variáveis que poderiam interferir nos resultados, como estilo de vida ou uso de medicamentos associados ao risco de Alzheimer.
O estudo também revelou que a proteção contra a demência foi significativamente maior em mulheres do que em homens. Segundo Geldsetzer, isso pode estar ligado a diferenças entre os sexos na resposta imunológica ou na evolução da doença.
Referência: The Daily Digest